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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

E agora, José?


Pintura de Guillaume Corneille, representante do irreverente grupo CoBrA, a primeira experiência do pós-guerra no campo das artes plásticas. CoBrA, resultado das primeiras sílabas de Copenhague, Bruxelas e Amsterdam, onde os artistas viviam e trabalhavam. Durante seu curto tempo de atuação — de 1948 a 1951, houve um interessante debate sobre a reconstrução do mundo a partir da perspectiva de que a arte fosse incorporada à vida do cidadão comum de forma tão natural como os livros de uma biblioteca pública ou as notícias do dia-a-dia. Nestes tempos em que ruíram os mitos da esquerda e da direita, e o embate entre as correntes estéticas esmaeceu, o movimento CoBrA provoca reflexões sobre questões atuais ● O italiano Mario Merz (1925-2003) foi um dos principais artistas do movimento da Arte Povera, termo criado em 1967 pelo crítico Germano Celant. A obra Che Fare? consiste em uma travessa de alumínio (usada para assar um peixe inteiro), com cera de abelha e as palavras em neon modeladas com a caligrafia do artista. Merz começou a usar a frase "che fare?" a partir de 1967, que pode ser traduzida como "o que fazer?" ou "o que deve ser feito?". O conceito desse trabalho está associado com o discurso de Lenin, em que ele usou a frase como slogan revolucionário em 1902. Mas não foi o discurso de Lenin que lhe chamou a atenção. Merz disse ter lido a frase num livro do escritor russo Nikolai Tchernichevski e a pergunta o deixou intrigado, principalmente, depois de observar crianças brincando e constantemente se perguntando "o que vamos fazer?" ● Charge do Jaguar — Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, carioca do bairro do Estácio, cartunista, ilustrador, desenhista, jornalista, cronista. Iniciou sua carreira na revista Manchete, em 1957. Foi considerado "pé-frio", depois de fechar várias publicações onde trabalhou. Funda em 1969, o revolucionário semanário O Pasquim. No jornal A Tarde Jaguar apresenta suas crônicas e charges na coluna Crônica do Jaguar. Aos 86 anos, o cartunista parece estar longe de diminuir o ritmo e humor crítico: "Se o capitão e o general forem eleitos, acredite se quiser, teremos muitas, mas muitas saudades do Temer" ● ... você marcha, José! / José, para onde? Carlos Drummond de Andrade
© Guillaume Corneille, Nu, 1978, óleo sobre tela (Revista do MASP - Museu de Arte de São Paulo, # 2, artigo Militantes da utopia) / © Mario Merz, Che Fare? 1968, alumínio, cera e neon, Tate / National Galleries of Scotland / © Jaguar, O país do futuro já era, charge publicada no jornal A Tarde, 11 de agosto de 2018 / versos do poema José, de Carlos Drummond de Andrade